
O festival Just a Fest, também realizado dois dias antes no Rio de Janeiro, escolheu aquela como a segunda data para presentear míseros mortais brasileiros com uma noite improvável. Como se não bastasse a proeza de trazer pela primeira vez ao Brasil a mais cultuada banda do universo pop contemporâneo, o Radiohead, o evento elevou o “cast” de atrações a patamares de sonho ao incluir mais dois shows pra lá de especiais para a abertura, com os cariocas Los Hermanos e o grupo alemão Kraftwerk.

A possibilidade de ver o quinteto de Oxford por aqui fez os fãs urrarem de felicidade e encherem-se de expectativa para o então já aclamado “show do ano”. Amigos vieram de longe para conferir, a mídia fez furor com a apresentação mais aguardada por toda uma geração de brasileiros. Caso houvesse alguma coisa errada, nossa decepção seria grande, muito grande.
Os cariocas

O Los Hermanos foi o primeiro a subir ao palco, ainda no fim da tarde. Fizeram um show despretensioso, alegre e festivo, digno de uma reunião de velhos amigos que só queriam aproveitar o momento. “Quanta gente, isso aqui tá lindo demais”, confessou uma hora Marcelo Camelo. “Viva a alegria!”, gritou Rodrigo Amarante confessando o astral.

Os alemães
O Kraftwerk veio em seguida mostrando que está longe de soar antiquado, mesmo mais de 30 anos depois de

Muitos ali não conheciam muito o trabalho do grupo e uma boa parte do público, inclusive eu, acompanhou em silêncio contemplativo, apenas deixando-se hipnotizar pela junção perfeita entre o som e as animações no palco e telões. O cenário enchia os olhos, bebendo tanto da estética retro como do design moderno.

Os ingleses
Quando os membros do Kraftwerk se despediram, só uma angustiante espera nos separava do momento da verdade. Depois de um bom suspense, tubos verticais de luz se arrastaram das laterais até o meio do palco para formar o cenário da apresentação principal. O público, que começava a se espremer na linha frente, explodiu em gritos com o começo da preparação. Eu estava a menos de quinze metros do palco e a ficha começava a cair. Puta que pariu, ia começar o show do Radiohead.



De súbito, surgiu um som de introdução e as luzes finalmente se acenderam para decretar o início do show. O público inflamou em êxtase e não demorou para se formar um mar de celulares e câmeras fotográficas sobre minha cabeça. Vieram as primeiras batidas de “15 steps”, do novo disco, “In Rainbows” (2007), e eu só lembro que não parava de gritar. O vocal de Thom Yorke entrou totalmente abafado pela multidão. Logo Jonny Greenwood arpejou sua guitarra e abriu alas para os demais instrumentos encorpar a música de vez. Do caralho.

O show seguiria por mais de duas horas com canções de toda a carreira da banda, tocadas com uma fidelidade espantosa às versões em estúdio. Foi uma verdadeira avalanche de hits, percorrendo tanto as fases roqueiras como as mais experimentais. Nenhum álbum ficou de fora do set, que contou com 26 músicas e três bis. Eu disse três bis.
Além de todas as músicas do novo disco, com destaque para “Weird fishes/Arpeggi”, “Jigsaw falling into place”, “Reckoner” e “Videotape”, também vieram “Climbing up the walls”,“Exit music (for a film)”, “Lucky”, “Pyramid song”, “Everything is in the right place”, "Idioteque", a belíssima “Talk show host” (da trilha do filme “Romeo + Juliet") e muitas outras.

O primeiro grande baque foi com “Karma police”, quando o clássico disco “OK Computer” (1997) finalmente surgiu no set. Foi nela que presenciei um dos momentos mais vigorosos e arrepiantes da ocasião, quando todos urraram as próprias tripas venerando a redentora melodia no final da canção que embala a frase “for a minute there, I lost myself” (“Por um minuto lá, eu me perdi”). Nada mais conveniente.


Depois disso, as pessoas andavam atordoadas, perturbadas, cambaleantes no caminho de casa, como que tivessem sofrido um curto no cérebro. Se alguém ousava falar alguma coisa, era pra dizer que aquilo estava entre as melhores experiências de sua vida. E só.
Confira abaixo o repertório completo:
PARTE 1: “15 step”, “There there”, “The national anthem”, “All I need”, “Pyramid song”, “Karma police”, “Nude”, “Weird fishes/ Arpeggi”, “The gloaming”, “Talk show host”, “Optimistic”, “Faust arp”, “Jigsaw falling into place”, "Idioteque", “Climbing up the walls”, “Exit music”, “Bodysnatchers” BIS 1: “Videotape”, “Paranoid android”, “Fake plastic trees” (substituiu “Wolf at the door” de última hora), “Lucky”, "Reckoner” BIS 2: “House of cards”, “You and whose army”, “Everything is in the right place” Bis 3: “Creep”
Veja aqui os melhores momentos na transmissão do Multishow.
6 comentários:
arrepiante o texto, luisin...
ainda bem que vc disse que era macaco véio e que não ia se emocionar, né?
a mina do meu trampo gravou o show do multishow em dvd... se quiser, dá um toque.
abrasss
uhh! quero.
"Foi desnorteante, mágico, coisa de sonho."
faço suas palavras as minhas....
surreal....
muito bom o texto macula....
valeu!
minino, tava aqui lendo (veja a data) e já se passaram tantos dias... revivi a parada. du caralho, nego!
massa, essa foi a intenção, Dai.
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