sábado, 16 de maio de 2009

Oasis, cigarros e álcool

O temporal que caiu em São Paulo no início da noite de sábado, dia 9 de maio, bem que tentou mas não conseguiu abalar minha animação de ver mais um show do Oasis, definitivamente, a banda que fez a minha cabeça na adolescência. Foi sozinho, cheguei ensopado e saí com um sorriso de orelha à orelha.

Só quem acompanhou os caras desde os primórdios, em meados dos anos 90, sabe o quanto era dose saber que ali estava uma puta banda de rock, muito além de “Wonderwall”, e ainda ter que escutar escrotice alheia, daqueles que só conseguiam ver a arrogância crônica dos irmãos Noel e Liam Gallagher. Porque a nata do Oasis é o rock de carranca, movido a levadas nervosas de bateria e avalanches de guitarra afogando o vocal malandro e manhoso de Liam. E essa carranca, depois deles, ninguém conseguiu fazer melhor.

Na década passada, o Oasis surgiu incrementando receitas clássicas do rock às raves da Madchester - leia-se Happy Mondays e Stone Roses - e salvou o mundo pop da depressão pós-grunge. E naquele momento foram, sim, a melhor banda do mundo. E mais: viraram o século como o último grupo mainstream a ostentar uma atitude rock n´roll que se preze - posto que ainda detêm por pura falta de adversários. Alguns até tentaram entrar na mesma linha, seguindo aquela tríade básica do ramo, mas não tiveram virilidade pra passar dos primeiros passos, como o Libertines.

Hoje, 15 anos depois de
lançar o clássico disco “Definetely Maybe” (1994), o debute mais vendido da história da Inglaterra, o Oasis segue sobrevivendo aos inúmeros arranca-rabos internos e externos e ao estrondo mundial do duvidoso movimento do Novo Rock, do qual muitas bandas declaram ter o grupo como grande influência, como Kasabian e Arctic Monkeys.

O show
Foi com um certo a
traso que cheguei a Arena do Anhembi pra sacar ao vivo pela segunda vez os donos da comissão de frente do britpop, em seu quarto do show no Brasil. Enfrentei o toró com uma capa de chuva vagabunda e cheguei à estação como um pinto molhado. Peguei o metrô, dividi um taxi com uma galera e cheguei quando já tinham acabado o pior do temporal e a abertura do Cachorro Grande.

Só deu tem
po pra fumar um cigarro, tomar um copo de cerveja em um gole, reabastecê-lo mais uma vez e me embrenhar pela massa de 25 mil fãs, segundo a organização, que já estavam a postos muito antes de eu chegar. Infiltrei-me até onde deu, uns cem metros do palco, bem mais longe do que queria ficar. Diziam que a grade estava logo à frente, mas o palco ainda estava bem distante. Como sempre, culpa da maldita ala VIP.

Pontualmente às 22 horas, o Oasis entrou ao som da instrumental “Fuckin In The Bushes”, exatamente com a mesma trilha de fundo que os vi subir ao palco do Rock in Rio, há oito anos. Sem muita firula, eles já emendaram um bloco fulminante de rock, com “Rock Roll Star”, “Lyla”, “The Shock Of The Lightning” e “Cigarettes & Alco
hol”. Dois clássicos antigos e duas mais recentes. Todas redondas e energizadas, incendiando o ânimo da multidão.

“O que acontece entre a gente e a chuva em São Paulo?”, comentou Noel Gallagher quando a garoa voltou, lembrando o toró durante a apresentação na capital paulista em 2006. Mas pra não deixar aquele chuvisco esfriar ninguém, vieram mais duas pedradas com a raiva enxuta de “The Meaning Of Soul” e “To Be Where Theres Life”, que teve sua levada psicodélica elevada ao cubo. Depois veio “Masterplan” em um arranjo fiel, suave e crescente como deve ser, com Noel entoando a apoteose acompanhado pela massa do começo ao fim. Foi talvez o momento que eu mais berrei, contagiado pela nostalgia.

Com isso, já dava pra
perceber que os Gallaghers parecem ter achado a liga com a nova formação. Além dos já efetivos Gem Archer (guitarra) e Andy Bell (baixo), a banda conta com o novo baterista Chris Sharrock e o tecladista de apoio Jay Darlington, vulgo “Jesus” e culpado pela chuva segundo Noel. O sexteto funcionava coeso e dava acabamento fino tanto em baladas como nas pegadas mais vigorosas.

Logo em seguida, Liam reassumiu os vocais para comandar o contraste entre a meiga “Songbird” e dois dos melhores rocks do grupo, que vieram em seguida. Primeiro veio “Slide Away" e quase tive um treco. Assim que soou o solo de introdução, soltei um grito das entranhas e fiz burguesinhos à minha frente se encolherem de susto. Muito pegada. Depois foi a vez de “Morning Glory” surgir arrebatadora, como um soco na cara, fazendo reacender a massa, que pulou e gritou em coro o “weeeeell!” do refrão.

O show seguiu flutuando entre músicas do início da carreira e da safra atual, principalmente dos dois últimos álbuns, Don't Believe the Truth (2005) e Dig Out Your Soul (2008), que mostram um reencontro dos caras com as boas composições. Entre as novas, destacou-se de longe o vocal perfeito de Noel em “The Importance Of Being Idle”, que foi esgoelada por praticamente todo o público, de mãos em riste. Pra fechar o primeiro bloco, vieram, claro, o hino enfadonho “Wonderwall” e a sempre matadora “Supersonic”.

Com a pausa, resolvi sair da aglomeração de fãs estúpidos na frente para acompanhar o resto do show na ala de trás – porque onde estava a frescura era tão dominante que não rola esgolear nem acender cigarro sem perceber a reprovação ao redor. Neguinho quer ir em show de rock sem sentir cherinho de tabaco? Ah, não tem coisa mais triste que burguês deslocado. Os fãs atuais de Oasis são uma legião de manés pós-adolescentes. Boa parte das pessoas de onde estava eram casais de namorados, meninos classe média limpinhos, patricinhas perfumadas e até bombados.
Segui pras bandas do fundão pra aproveitar o bis regado a cigarros e álcool, e um pouco de espaço. Durante o caminho, Noel voltou ao palco pra mandar uma versão acústica surpreendentemente linda de “Don't Look Back In Anger”, que, desnecessário dizer, fez a Arena inteira cantar junto. E, já lá atrás, lembro que rolava a chatíssima “Falling Down” quando saía da fila do bar pra outra cerveja.

Não precisei andar muito pra perceber que a parte de trás era o antro dos remanescentes da velha guarda. Era outro ambiente, muito agradável. Estava tudo ali: a marofa de cigarros, roqueiros bebuns e gatas de mais de 20 anos. Foi um alívio, senti-me em casa com gente de verdade à minha volta e não demorei pra acender o careta e cantarolar animado. E, para completar o momento, Liam lembrou de mim e dedicou a próxima música “pro pessoal do fundão”. Toda a galera ali soltou um urro em gratidão instantânea antes de soar as primeiras notas de “Champagne Supernova”.
Não existia melhor lugar pra fechar a noite, como não havia melhor música pra fechar o show do que uma cover paulera de “I Am The Walrus”, dos Beatles. Foi lindo ver as gatinhas pulando frenéticas com seus cigarros e gorós em mãos. E foi assim que me despedi dos caras ao final: com as duas mãos pro alto, uma com a bituca e outra com um copo de cerveja. Justamente os símbolos que dão nome àquele hit desse grupo parido nos sujos e frios subúrbios de Manchester e que abriu caminho para a minha paixão por tudo que vem de lá.

4 comentários:

rafael disse...

porraaaaa...queria ter ido nesse show....mas fazer o q né?

é isso ae macula, como sempre os dedos afiados e sem meias palavras...muito bom.

L. disse...

valeu, bródi. faltou você lá.

Dai D. disse...

louis, louis...
a gente precisa se falar mais, vc continua indo nos shows que eu desejo. heheheheh...

L. disse...

chamar-te-ei pro próximo, hein. quero só ver...