quinta-feira, 29 de março de 2007

O mais querido

O ex-ditador Oliveira Salazar (1889-1970) foi eleito neste domingo "O Grande Português" em uma votação feita por uma rede de TV do país. O resultado assustou os liberais europeus e houve quem visse o fato como um indício do surgimento de uma tenência conservadora na Europa.

O concurso causou rebuliço já em 2006, quando o nome do ditador figurou entre os cem lusitanos mais importantes de todos os tempos, na primeira fase do programa. Ao todo, quase noventa mil portugueses votaram em 2.584 celebridades via internet. Entre eles, o ex-presidente Mário Soares, a cantora Amália Rodriguez e até boleiros como Luis Figo e Cristiano Ronaldo.

Salazar, que nem constava na lista inicial, classificou-se entre os dez primeiros. Na fase final, os votos passaram a ser por chamadas telefônicas pagas e cada finalista teve um "defensor público", com a função de produzir um esclarecedor documentário sobre a importância dos feitos de seu protegido. Para falar sobre o legado salazarista, foi escolhido o professor e pensador direitista Jaime Nogueira Pinto, 60 anos.

E, pelo jeito, o professor convenceu: Salazar liderou com 41% dos votos, à frente de seu histórico e ferrenho inimigo, o escritor comunista Álvaro Cunhal (1913-2005), em segundo com 31%. A relação final incluiu ainda, entre outros, Dom Afonso Henriques, primeiro monarca português, o infante dom Henrique, grande articulador da expansão marítica do Império, o rei Dom João II e os poetas João Pessoa e Camões.

A vitória do antigo ditador reascendeu também as opiniôes diversas dos portugueses acerca de suas realizações e a importância histórica de sua política no país. Defensores alegam que sua gestão sanou as dívidas nacionais e livrou os português de ingressarem na Segunda Guerra Mundial. Já os detratores a definem como ultraconservadora e maniqueísta, lembrando a perseguição de opositores e o isolamento do país, que teria levado a nação à uma época de pobreza e ignorância.

Oliveira Salazar tomou posse do ministério das Finanças em 1928, onde ficou até 1932, ano que criou o Estado Novo português, que governou como primeiro-ministro através da criação de um partido único, a União Nacional. Assim, manteve-se no cargo até dois anos antes de sua morte, em 1968, tendo sua política calcada no militarismo e na igreja, com aguda oposição ao comunismo e influencias internacionais. O salazarismo só viria a cair em 1972 com a Revolução dos Cravos, quando militares oposicionistas estirparam do poder oficiais que apoiavam a ditadura, entregando o governo ao moderado general Antônio de Spínola. Em 1974, após o fim do regime, o esquerdista Álvaro Cunhal pode voltar ao país depois de 33 anos de exílio.

Ontem, o ex-presidente Mário Soares classificou a rede de TV de indigna, acusando o programa de ser manipulado. Já o historiador Rui Torgal disse que a imagem histórica de Salazar "foi fabricada" e que a votação se assemelhou a um "Big Brother". O jornalista Fernando Dacosta, autor de "Máscaras de Salazar", ponderou que a relevância do resultado é mais uma desaprovação ao atual governo, que promoveu demissões em massa e reformas sem apoio popular, do que uma manifestação real de simpatia pela memória do antigo comandante.

O concurso já foi realizado em vários países. Na Inglaterra a vitória foi de Winston Churchill, na França, do general autonomista Charles de Gaulle, e nos EUA, pasmem, o vencedor foi o ex-presidente e comediante Ronald Reagan.

Algum de nossos correspondentes na Europa podem, ou não, dar mais esclarecimentos aos nossos leitores sobre a suposta onda conversadora no continente.

3 comentários:

Anônimo disse...

João Pessoa?

Anônimo disse...

ops, Fernando Pessoa.

Anônimo disse...

Prenúncio dos fins dos tempos... rs

Ass:Lupa